O blog

Este blog foi criado em 2008 para a postagem das minhas colunas que eram publicadas no Infomoney e no extinto A Cidade.
Atualmente publico no jornal O Pinhalense e no site O Financista.
Aproveitem!


terça-feira, 29 de setembro de 2015

50 tons de crise

http://www.financista.com.br/noticias/50-tons-de-crise

A onda de notícias ruins da economia parece não parar de crescer e já tomou a forma de um maremoto. O governo, que estava tomando um solzinho na praia, sensibilizou-se com a tragédia anunciada pelo tsunami que se aproximava e encomendou um plano de reconstrução e de socorro às vítimas. A equipe do governo responsável pelo plano achou prudente se salvar primeiro antes de ajudarem as demais vítimas. Para tanto, resolveram se refugiar em um castelo de areia...
Em meio a onda gigante de notícias indigestas que tende a varrer a praia e o governo brasileiro junto, vemos que o dólar tem avançado porque cada vez mais há sinais (e evidências) que o governo não conseguirá cumprir nada que venha a prometer no que se refere a sua meta fiscal deste e dos próximos anos. O excesso de sinceridade do governo ao tratar do tema escancara a escassez de planos e de coragem para tratar das origens dos problemas fiscais do país. E isto tem provado ser politicamente fatal.
O governo prometeu economizar, no início do ano, cerca de 65 bilhões de reais em 2015 (1,1% do PIB), sendo que nos últimos 12 meses até julho acumula um déficit de quase 0,9%, um recorde. O resultado de julho foi de R$ 10 bilhões negativo após um junho com outro déficit de R$ 9 bilhões. Frente a constatação da impossibilidade de se cumprir a meta inicial, optou-se pela comodidade de se ajustar a meta. Apenas a meta. E agora promete-se um superávit de 0,15%. Dados os déficits anunciados recentemente vão precisar remar muito mais em meio ao tsunami para se atingir a meta cada vez mais distante. O que vai ser bem difícil dada a dificuldade de se aumentar a arrecadação num ambiente econômico fraco e politicamente hostil.
A depender dos impostos arrecadados junto aos empregados formalizados, pode-se ir desistindo de qualquer meta superavitária. O CAGED que levanta o número de admissões e demissões mensais, registrou um saldo negativo de geração de empregos de mais de 150 mil trabalhadores, no último julho. O pior julho desde a criação da série, em 1992. Em doze meses, o saldo negativo é de mais de 750 mil vagas. Caso fossem remunerados pelo salário mínimo, estes 750 mil postos de trabalho perdidos gerariam mais de R$ 1,5 bilhões por ano à Previdência. Agora, ao contrário, geram pressão fiscal por meio do seguro desemprego.
Já o aumento da taxa de desemprego divulgado pelo IBGE, 8,3% e subindo, retrocedeu o indicador para o nível de quase 5 anos atrás, segundo estimativas feitas pelo departamento econômico do Bradesco por meio de retropolação. Isto sem considerar que este indicador é de certa forma “mascarado” por sua metodologia, que considera desempregado apenas quem efetivamente está a procura de emprego – se você não tiver emprego e não sai de casa a procura de um (ou mora na rua), você não é considerado desempregado pelo IBGE. Por essa mesma razão que há algum tempo a taxa de desemprego tem sido achatada pelo retardamento da entrada no mercado do trabalho das pessoas mais jovens, que estavam prolongando seus estudos. Onde estes jovens trabalharão quando terminarem os estudos? Isto vai depender do nível de confiança dos empresários para expandir seus negócios e dos consumidores para movimentar a economia.
E estes foram outros indicadores divulgados recentemente. E também nada animadores. A confiança do consumidor simplesmente atingiu seu patamar mínimo histórico, desde a criação da série em 2005. Não por acaso o mesmo ocorreu no nível de confiança do comércio, com 4 quedas consecutivas atingiu seu mínimo desde sua criação em 2010 e 22% menor que um ano atrás. Já a confiança da indústria também está em queda, 17% menor que há um ano, no menor patamar dos últimos 10 anos.
Todo esse cenário desalentador na economia (e olha que nem falamos da inflação!) tem minado o nível de satisfação e paciência da população com o governo central. E não é por menos, afinal a maioria dos brasileiros não sentimos prazer em apanhar.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Retorno ao blog

Retornando ao blog após 4 anos de ausência.

O sapo, o escorpião e o atual governo

http://www.financista.com.br/noticias/o-sapo-o-escorpiao-e-o-atual-governo

Diz a fábula que havia na beira da água um sapo que foiabordado por um escorpião que pedia ajuda para atravessar o rio e se propôs ir nas costas do sapo. O sapo desconfiado admitiu que tinha receio de o escorpião picá-lo no meio do caminho. O escorpião argumentou que isso não fazia o menor sentido, pois se o picasse os dois morreriam juntos. Convencido pelo raciocínio lógico do escorpião, o sapo aceitou carregá-lo através do rio. Meio caminho percorrido rio adentro, o escorpião pica o sapo. Antes do mergulho fatal, eles conseguem trocar suas últimas palavras: “Por que você fez isso? questionou o sapo desolado. Faz parte da minha natureza.” resumiu o escorpião.
Toda fábula tem uma moral, mas esta e seus personagens em particular vão além e servem como uma metáfora do atual governo brasileiro e dos dois principais partidos de sua coalizão, o PT e o PMDB. Pensemos o rio como um caminho que pode ser fatal, mas que precisa ser percorrido. O rio é o ajuste fiscal e monetário em meio a maior recessão econômica de décadas, num ambiente de inflação alta, índice de aprovação do governo quase inexistente e comgovernantes sendo investigados ou indiciados por Polícia Federal, Tribunal de Contas da União e Tribunal Superior Eleitoral.
Todos sabem que para se chegar a outra margem do rio – o próximo mandato presidencial – com chances reais de se manterem no poder, devem primeiro atravessar estas correntezas que podem afogá-los, o que interromperia assimsuas aspirações de poder e comprometeria definitivamente suas biografias e relevância política.
Um depende do outro para atravessarem o rio e saírem ilesos. O sapo depende do escorpião que pode a qualquer momento o picar e o escorpião depende do sapo que pode mergulhar e afogá-lo. O PT depende do PMDB que têm domínio do Legislativo e pode viabilizar no Congresso um impedimento da presidente Dilma. E o PMDB depende do PT que tem a caneta que assina os cheques que são a razão de seu apoio ao governo em primeiro lugar.
Ademais, um impedimento de Dilma hoje deixaria o PMDB no poder, mas bem no meio das correntezas mais fortes da travessia. Seria de seu interesse (ou natureza)? E a depender do desfecho do julgamento do Tribunal Superior Eleitoral, o próprio PMDB pode ser alijado do poder em conjunto com o PT. Sem contar que a operação Lava-Jato pode ainda comprometer as aspirações políticas dos peemedebistas que presidem o Senado e o Congresso. 
Ao mesmo tempo que um apoio incondicional do PMDB a um governo e a uma governanta petista de quinta categoria,segundo 9 de cada 10 brasileiros, pode também não ser a melhor opção para quem almeja um dia chegar ao poder pelo voto popular.
Na fábula do governo brasileiro, tanto o PT quanto o PMDB têm ciência de sua interdependência e estão no início da travessia do rio. Curiosamente ambos parecem conhecer o desfecho da fábula que mimetizam. O que mais os intriga, porém, é que eles não fazem ideia de quem é o sapo e quem é o escorpião da história.

O que querem as manifestações

Coluna de O Pinhalense, 22 de agosto de 2015

É curioso ouvir os arautos da ética criticarem as manifestações do último domingo por estas terem supostamente se esquecido de manifestarem contra a violência policial, a chacina da semana anterior ou tão pouco terem gritado palavras de ordem contra a pobreza e em favor da paz mundial.
Para quem não percebeu, as manifestações tinham foco. Algo que estava difuso e não tão claro nas manifestações anteriores, mas no último dia 16 se manifestou mais evidente. Quem foi às ruas pedia o fim do mandato de Dilma e o fim da era petista no Planalto e até na política brasileira, esta simbolizada pelo Lula inflável gigante com um uniforme de presidiário.
Assim como a Marcha das Margaridas saudada pela presidente na semana anterior parecia não se preocuparcom a violência contra homossexuais ou quem foi abraçar o Instituto Lula não se lembrou da violência na periferia, a manifestação do dia 16 não precisava colocar na pauta a salvação do planeta para se legitimar.
Quem acha o contrário, ou não aceita a realidade e gosta de se auto-enganar, por orgulho ou ingenuidade, ou simplesmente não lhe resta argumentos para desqualificar o mérito da manifestação e fica no mimimiDizer que as manifestações esqueceram de protestar contra isso ou aquilo é o mesmo de querer vencer um debate acadêmico contra Einstein o insultando de feio.
Cuidado com o que se deseja
Neste último ano, os petistas têm mostrado com maestria que faz total sentido a expressão “cuidado com o que se deseja”. A começar pelas próprias eleições de 2014, cuja vitória foi tão desejada que se fez o diabo para vencerem e cuja conta está aí e o diabo parece não parar de cobrar.
Nesta última semana foi feita a denúncia contra Eduardo Cunha pelo Ministério Público Federal no processo da Operação Lava-Jato. Fico a imaginar quantas velas os petistas queimaram desejando que este dia finalmente chegasse.
Ocorre agora que eles estão em uma encruzilhada. Não sabem se desejam o afastamento de Cunha da presidência da Câmara ou se preferem sua manutenção no cargo ao qual foi legitimamente eleito para usar justamente a expressão usada pelo governo para se defender.
Pois bem, se Cunha permanecer no cargo ele pode dar celeridade e terá mais poder de barganha para articular um processo de impeachment contra a presidente, porém o Planalto calcula que ele estará enfraquecido moralmente e talvez valha a pena correr o risco de deixa-lo sangrando, com suas atenções divididas, até porque na hipótese de cassação de mandato pelo TSE, o vice Temer também seria alijado do Planalto e Cunha assumiria a presidência do país interinamente até as novas eleições. E quem desejaria e apoiaria uma coisa dessas?
Por outro lado, se Cunha for afastado da presidência da Câmara, não há certeza sobre o grau de independência que o próximo presidente irá assumir. Sabe-se que a base governista está no momento enfraquecida e não tem condições de cooptar o próximo presidente. Ao mesmo tempo que um afastamento de Cunha alimentará a sua versão da teoria da conspiração que o Planalto estaria lhe perseguindo e pode servir de combustível para inflamar os ânimos dos que ficarem na Mesa Diretora da Câmara. O ponto positivo para o Planalto no afastamento de Cunha seria o distanciamento no curto prazo de um risco conhecido de se ter um opositor declarado na presidência da Casa em tempos que a popularidade e governabilidade do Planalto estão minguando.
Na história do dilema dos prisioneiros da Teoria do Jogos, cujo enredo é cada vez menos metafórico neste caso, ambos os bandidos presos acabam entregando um ao outrocom a esperança de se safarem ou pegarem uma pena mais branda. É a escolha racional de cada um, mesmo que ambos poderiam ter melhor resultado caso cooperassem um com outro. Ou seja, o resultado esperado do dilema dos prisioneiros deveria ser o maior receio do Planalto ao desejar fritar Eduardo Cunha.

O orçamento que não foi: a concepção de Dilma-bomba

A presidente Dilma Roussef perdeu uma oportunidade de ouro de dar um troco no Congresso, que vive a enquadrando e constrangendo-a, ao enviar uma proposta de orçamento na qual as despesas superam as receitas e sem propor alguma solução se quer para este déficit. Foi algo inédito na história.
Os jornalistas logo papagaiaram a versão oficial que isso significava uma mudança positiva de atitude do governo, que agora estava sendo razoável (leia-se sincero) e transparente ao não considerar premissas irreais e nem maquiagens orçamentárias. Já a versão dos bastidores plantada pelo Planalto na mídia amiga e/ou preguiçosa era que esta medida jogava o Congresso contra a parede, pois ficaria com eles a solução dos problemas de orçamento que em parte eles possuem responsabilidade ao criarem dia sim outro também mais despesas com as quais Dilma tem que se virar ou vetar.
Na verdade, esta estratégia do governo Dilma apenas revelou uma extrema ingenuidade política do núcleo duro (ou seria mole?) do Planalto, pois na prática levantou a bola para os críticos e o Congresso cortarem e acusarem o governo de incompetente e irresponsável. E com razão!
Dilma tem que entender que ela possui menos de 10% de aprovação e que aqueles que a aprovam hoje, na atual conjuntura, provavelmente seguirão aprovando-a não importa o que ela faça. Em outras palavras, ela não tem nada a perder e pode arriscar. O que é um risco para o Brasil obviamente. Mas disso resulta que se ela realmente quisesse constranger politicamente a Câmara, poderia usar da mesma moeda com que o Congresso a constrange. Ou seja, ela deveria colocar a previsão da volta da CPMF ou de criação de qualquer outro imposto na peça orçamentária como forma de cobrir o déficit previsto para o ano que vem.
Se este fosse o caso, com quem ficaria o ônus de gerar um déficit e acelerar o processo de perda de grau de investimento caso o Congresso não aprovasse a CPMF? No mínimo, a Câmara Federal teria que propor umaalternativa e não se omitir. Mas da forma que foi feito, não há nenhum incentivo político para o Congresso ajudar um governo que se provou fraco e amador neste processo.
Com episódios como esse que viraram mais regra do que exceção, a presidente Dilma caminha em ritmo galopante para o encurtamento de sua estada no Alvorada. No momento que ela se convencer que seu governo perdeu há tempos capacidade de reação e que o prolongamento deste vácuo de poder só contribui para a deterioração da situação socioeconômica do país, talvez ela renuncie ou articule o aceleramento dos processos que levarão ao seu impeachment só para que lhe reste um discurso de golpe e para talvez emplacar esta versão nos livros escolares de história de nosso país quase nada tendenciosos.
Contudo, até o momento, Dilma demonstra ter a teimosia de fanáticos e uma lógica de psicopatas. Não parece se importar em praticar um suicídio político e trazer consigo para o buraco um país inteiro.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Rap do Desenvolvimento

Coluna publica no A Cidade, em 15 de janeiro de 2011

Um rapper americano canta pra ficar famoso, encher o pescoço de correntes de ouro, comprar um Porsche, sair do gueto, mudar-se para uma mansão e, por fim, para mostrar a todo mundo, por meio de sua música, que ele se deu bem: ficou rico.

O rapper brasileiro canta pra ficar famoso,de preferência com patrocínio público, “tunar” seu Monza, colar um adesivo “100% Periferia” no vidro traseiro e faz poesia romantizando a pobreza e a vida sofrida.

Tanto lá como aqui, o rap é o mesmo estilo musical. Só mudam as letras e as histórias contadas. E isso faz uma enorme diferença, pois embora musicalmente muito parecidos, os raps de cada país refletem culturas totalmente distintas.

Nas letras e atitudes destes artistas estão expostas as aspirações e anseios de parcela da população que, por isso, identifica-se com a música, criando uma empatia e a compra do CD.

Não é de se estranhar que os EUA é um dos países mais desenvolvidos do mundo enquanto o Brasil patina para se desenvolver. Falta ambição. Eles querem ficar ricos e mostrar a todos que conseguiram. E isso faz com que todos também tentem ser bem sucedidos. Aqui, nós queremos ficar ricos e dizer a todos o quão orgulhosos somos de morar numa favela. O importante não é tentar se dar bem e ser bem sucedido. O importante é aceitar a condição de favelado e se orgulhar disso. Afinal, tem até artista que faz musica pra gente dizendo o quanto isso é legal.

Por outro lado, esta característica cultural também explica as estatísticas que mostram o Brasil entre os países mais felizes do globo, enquanto os mais frustrados e infelizes são sempre países mais desenvolvidos, apesar de todo aparato de bem estar social acessível a toda população que existe na maioria destes países. Sem ambição não existe frustração. Estas pesquisas, na verdade, mostram que tem gente (eles) que é feliz e não sabe e tem gente (nós) que não sabe o que é ser feliz.


Tragédia no RJ

Se o clima tem alguma responsabilidade na tragédia, foi a de evidenciar a falta de planejamento em todos os níveis e esferas de governo além da falta de responsabilidade de parcela da população que se instala em áreas de risco. No âmbito do clima, nada que ocorreu era imprevisto ou inesperado para esta época do ano.

Bomba Russa

Coluna publicada no A Cidade, em 29 de janeiro de 2011

O atentado terrorista no aeroporto de Moscou, que ocorreu esta semana, foi o primeiro na Rússia almejado diretamente a civis estrangeiros. Embora o terror causado seja o mesmo caso os alvos sejam civis domésticos ou estrangeiros, atacar os últimos é um claro sinal de tentar mostrar fragilidades no sistema de segurança russo e amedrontar a população global no início de uma década na qual se espera um grande fluxo de turistas para o país. Em 2014, a Rússia sediará as Olimpíadas de Inverno e, em 2018, a Copa do Mundo de futebol.

Além disso, atacar estrangeiros busca também chamar a atenção do globo para o regime autoritário que se instalou no país desde o fim da União Soviética. Yeltsin, Putin e Medvedev – todos os presidentes desde então – foram patrocinadores da criação de uma oligarquia capitalista que tomou de assalto a economia do país e também são coniventes com um sistema mafioso que administra atividades ilegais no país, como contrabando, tráfico de drogas e mulheres e, mais recentemente, “serviços de proteção” ao patrimônio de empresas estrangeiras.

Tudo isso teve início na década de 90. Logo após o desmantelamento da União Soviética, as únicas atividades econômicas minimamente competitivas deixadas de herança por décadas de um regime socialista eram a fabricação de armas e a exploração de recursos naturais: gás e petróleo, principalmente.

Para desenvolver o país e se financiar, o governo russo abriu seus mercados de bens e capital para o fluxo de capitais estrangeiros e paralelamente iniciou um processo de privatização, que era necessário, já que literalmente toda economia estava sob controle estatal. Mas este processo de privatização foi desastroso, pois configurou-se, na prática, por uma transferência de ativos das mãos do Estado para as mãos de grupos familiares que eram próximos ao governo.

Enquanto isso, o país surfou na onda de liquidez internacional de capital que ocorria em meados da década de noventa que serviu para injetar um grande volume de recursos nestas novas empresas privatizadas. Estas, porém, eram pouco interessadas em se desenvolverem o que não impediu os poucos grupos que passaram a comandar a economia ganharem musculatura financeira. E junto com a riqueza veio a vontade de consumir bens de luxo. Afinal os novos czares da economia não se satisfaziam com carros Lada e demandavam BMWs.

Como eles próprios não produziam BMWs, a solução foi importar. E houve uma enxurrada de bens importados na economia russa provocada não só pela demanda interna de bens de consumo dos mais variados, mas também pela valorização do câmbio que sucedeu àquele grande fluxo financeiro para a Rússia.

Neste processo de perder o controle da exploração de seus recursos naturais e possuir uma economia doméstica fragilizada e altamente dependente de importação, o governo russo ficou refém do endividamento externo para se financiar. Uma configuração insustentável ao menor suspiro dos fluxos internacionais de recursos. E foi o que ocorreu em 1998. Aos primeiros sinais de desconfiança dos investidores estrangeiros, que começaram a perceber que seus recursos estavam sendo usados para consumir BMWs e não produzi-las, o fluxo de investimentos foi recuando até o governo russo declarar moratória de sua dívida e o fluxo cessar completamente.

Até na declaração de moratória o ranço autoritário do governo russo se transpareceu, pois o governo declarou moratória não só da dívida em dólares, mas também da dívida em moeda local. Acontece que nenhum país declara moratória em dívida local, pois basta imprimir moeda para pagá-la...

Desde então, o colapso da economia russa apenas fortaleceu a simbiose entre máfia, oligarquias capitalistas e o grupo de poder, pois para manterem o status quo sem os recursos externos, estes grupos tiveram que se sustentar com apoio mútuo. Desequilíbrios neste jogo de poder tendem a gerar estragos maiores que o ocorrido no aeroporto de Moscou.