O blog

Este blog foi criado em 2008 para a postagem das minhas colunas que eram publicadas no Infomoney e no extinto A Cidade.
Atualmente publico no jornal O Pinhalense e no site O Financista.
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sábado, 23 de outubro de 2010

Vergonha de Trabalhar

Coluna publicada no A Cidade, em 16 de outubro de 2010

Pela metodologia do IBGE, entre outras, existem duas condições para uma pessoa ser considerada desempregada: a primeira, mais óbvia, ela não deve possuir um emprego regular; e a segunda, ela tem de estar procurando um emprego para entrar na estatística.

Por estes dois critérios, Pinhal deve gozar de uma taxa de desemprego baixa. Infelizmente, mais devido ao segundo critério. Quando estou na cidade, impressiono-me com as histórias que me contam de pessoas que possuem aversão ao trabalho, que não se esforçam para conseguir um emprego e ficam esperando sentadas as melhores oportunidades baterem à porta para, quem sabe, avaliá-las.

Em dezembro de 2005, o antigo dono do bar A Pauliceia concedeu uma entrevista a este jornal, na qual ele foi questionado sobre como era dirigir o empreendimento. Provavelmente esperando palavras que mostrassem sentimentos de orgulho ou alegria, o jornalista deve ter se surpreendido com a sinceridade daquele senhor que, ao responder, descreveu a dificuldade que tinha para atrair e reter seus colaboradores. Foi taxativo: pinhalense não gosta e tem vergonha de trabalhar. E, para exemplificar, ele citou que em nove anos no comando do bar, até então, teve de recrutar mais de 150 pessoas de tão alta que era a rotatividade em seu quadro de funcionários.

A cidade daria um bom estudo de caso para a linha de pesquisa dos vencedores do prêmio Nobel de economia deste ano. Os pesquisadores Peter Diamond, Dale Mortensen e Christopher Pissarides conquistaram o prêmio ao estudar os desequilíbrios nos mercados de trabalho que provocam situações paradoxais como a existência de ofertas de emprego em locais onde sabidamente existem pessoas sem emprego que se qualificariam para as vagas em aberto.

Segundo os economistas, isto é devido às chamadas fricções no mercado, que são criadas pelo fato de ambos os lados da equação —ofertante e demandante— terem de investir recursos e tempo no processo de preenchimento ou procura de uma vaga.

Eles também indicam questões estruturais e institucionais como fatores destes desequilíbrios, entre os quais uma política de seguro-desemprego. Os pesquisadores demonstram que quanto maiores forem os benefícios do seguro- desemprego, mais tempo se leva para um empregador conseguir contratar um funcionário. Ou seja, menores são os incentivos para os “trabalhadores” saírem à procura de um emprego.

Questões culturais, embora sejam de difícil mensuração, também entram no rol das variáveis institucionais que causam desequilíbrios no mercado de trabalho. As fricções do mercado de trabalho pinhalense devem ser desta natureza. As causas destes traços culturais devem ser mais bem estudadas.

Hipóteses: alguma herança aristocrata e a presença de maus exemplos na sociedade —pessoas que parecem ser bem de vida sem nunca terem se esforçado, ou pessoas que são bem de vida, sem parecer que se esforçam para tanto.