O blog

Este blog foi criado em 2008 para a postagem das minhas colunas que eram publicadas no Infomoney e no extinto A Cidade.
Atualmente publico no jornal O Pinhalense e no site O Financista.
Aproveitem!


sexta-feira, 18 de junho de 2010

O Contran quer causar acidentes

Coluna publicada no A Cidade, em 5 de junho de 2010

Semana retrasada foi noticiado que o Conselho Nacional de Transito, o Contran, lançou campanha sobre a obrigatoriedade do uso de cadeirinhas de segurança em carros para as crianças de até sete anos. A resolução do próprio Contran terá um efeito prático previsível: o aumento de acidentes graves ou fatais com crianças. Isso mesmo. A obrigatoriedade de cadeirinhas de segurança trará mais insegurança ao trânsito e às crianças.

Isto é esperado devido ao incentivo que as pessoas possuem de serem menos cautelosas quando elas se sentem seguras. Ou seja, uma vez obrigado a prender seus filhos em cadeirinhas, as pessoas terão certeza de que elas estarão sempre seguras, logo não precisarão mais ser tão cautelosas na condução dos veículos. É o ambiente propício para o aumento de acidentes. Parece improvável, mas é uma reação natural do ser humano. Em economia, esta atitude é chamada de risco moral.

Para provar meu argumento, proponho um experimento ou exercício mental. Para não fugir muito do tema, o experimento também envolverá carros. O desafio será transportar duas latas de tinta no banco de trás do automóvel de um lado ao outro da cidade no menor tempo possível. Sujar o banco com tinta implica desclassificação. As latas devem ser transportadas uma de cada vez. Uma será transportada com tampa e a outra sem tampa. Dado que não se pode derramar tinta, em qual das duas situações as pessoas irão conduzir o carro com mais cuidado? É claro que será na situação com a lata de tinta aberta.

A tampa da lata de tinta do experimento é a cadeirinha de segurança que o Contran nos obriga a usar. O mesmo acontece com cintos de segurança e airbags. Quanto maior a sensação de segurança, maior a probabilidade das pessoas se envolverem em acidentes. Itens de segurança funcionam como um incentivo à imprudência. O melhor incentivo às atitudes prudentes seria uma série de itens de "ameaça" e não de segurança. Imaginem como seria o trânsito se ao invés de cinto de segurança as pessoas fossem obrigadas a dirigir com uma lança sobre o volante apontada para seus respectivos peitos.

Quem quer vender um carro bom?

Coluna a ser publicada no jornal A Cidade, em 19 de junho de 2010

Você já comprou um carro usado? Pela quantidade de estacionamentos e concessionárias de carro em Pinhal, eu imagino que muita gente na cidade já tenha comprado pelo menos um carro usado na vida. Pois bem, para aqueles que já tenham feito isso, foi comum encontrarem problemas no carro, não? Digo isso, pois em teoria, a probabilidade de se encontrar um carro usado de boa qualidade é muito pequena.

A explicação é a seguinte: vamos supor que no mercado existem proprietários de carros bons e de carros ruins desejando vendê-los. Os únicos que conseguem saber se o carro é bom ou ruim são seus respectivos proprietários. Os compradores não conseguem fazer a distinção entre um carro bom e um ruim, seja por ignorância ou por conta dos defeitos dos carros estarem muito bem acobertados.

Esta falta de informação sobre a qualidade do automóvel faz o comprador ficar propenso a pagar por um carro usado somente um preço médio ponderado, entre os preços-justos de um carro bom e de um ruim. Por exemplo, os compradores possuem a percepção que metade dos carros no mercado é de boa qualidade, mas a outra metade é ruim e eles custam R$ 30 mil e R$ 10 mil, respectivamente. Como eles não sabem distinguir um do outro, eles ofertarão apenas R$ 20 mil por carro (média ponderada de R$ 30 mil e $ 10 mil).

Com uma oferta de R$ 20 mil, o proprietário do carro de boa qualidade não vai querer fazer negócio, pois ele sabe que o carro dele é bom e que ele vale R$ 30 mil. Já para o proprietário do carro ruim é um bom negócio aceitar os R$ 20 mil, pois ele sabe que o carro dele vale R$ 10 mil.
Ou seja, o mercado será invadido por ofertantes de carros de má qualidade, pois os de boa qualidade não terão interesse de entrar no mercado aos preços ofertados. Logo, carro usado que esteja a venda vira sinônimo de carro ruim neste modelo.

Em economia esta situação se deve as chamadas imperfeições de mercado, que no caso são duas: (i) assimetria de informação, que é a divisão desigual de informações entre os agentes – o vendedor conhece melhor o produto do que o comprador. E (ii) seleção adversa, que no caso é refletida na predominância de automóveis com atributos indesejáveis no mercado.

Acredite ou não, estas idéias, com este mesmo exemplo, estão presentes em um artigo acadêmico de 13 páginas que rendeu ao seu autor, George Akerlof, o Prêmio Nobel de Economia de 2001. As idéias se fundamentam em uma duvida natural que deve (ou ao menos deveria) permear toda negociação que é a “se ele quer vender tal coisa, porque eu devo comprá-la?”.