O blog

Este blog foi criado em 2008 para a postagem das minhas colunas que eram publicadas no Infomoney e no extinto A Cidade.
Atualmente publico no jornal O Pinhalense e no site O Financista.
Aproveitem!


sábado, 28 de março de 2009

Quem mexeu no meu bônus?

Coluna publicada no portal Infomoney.com.br, em 27 de março de 2009

O escândalo dos bônus distribuídos aos dirigentes da seguradora norte-americana AIG adicionou lenha na fogueira da já polêmica discussão acerca da remuneração de executivos de grandes corporações.

Opinião pública e políticos norte-americanos condenaram a prática de se pagar bônus milionários para os funcionários de uma empresa à beira da falência que sobrevive graças aos aportes de US$ 180 bilhões do governo norte-americano. Por esta ótica simplista, isto de fato é nonsense. Porém colocando as emoções de lado e analisando mais friamente o episódio, é possível achar razões e explicações para a atitude da AIG.

Primeiramente é importante ressaltar que o governo norte-americano ter transferido bilhões para a AIG não significa uma aprovação por parte do governo da gestão financeira da empresa. A operação de salvamento da AIG foi feita por necessidade, para salvar o sistema financeiro como um todo. Ou seja, para evitar um dano maior ao país e ao globo do que os bilhões utilizados no socorro a empresa.

Mesmo assim, a atitude do governo dos EUA de condenar a distribuição de bônus da AIG é cabível? Eu creio que não. Caso o governo quisesse interferir na gestão da empresa, que o fizesse estatizando de fato a empresa e mudando sua gestão e políticas de bônus.

Ademais, esta postura do governo norte-americano só dificulta seus planos de salvar o sistema financeiro. Se a ajuda a instituições financeiras for seguida de interferências não acordadas previamente, criar-se-á incentivos para os bancos em necessidade começarem a rejeitar as ajudas do governo.

Voltando à questão central, o que explicaria a opção da AIG pela distribuição de US$ 160 milhões aos profissionais responsáveis pelo fracasso financeiro da seguradora?

Uma razão, a mais óbvia, é o cumprimento de contratos previamente acordados com estes profissionais. Mas até aí a empresa poderia optar por renegociá-los ou pagar o acordado e, em seguida, demitir estes funcionários.

Uma razão menos óbvia que levou a empresa a não fazer isso foi a de preservação da essência de sua política de remuneração variável. E esta explicação passa pelos incentivos (sempre eles) e sinalizações que uma política de bônus procura desenvolver quando uma empresa opta por esta maneira de remunerar seus funcionários.

Ao adotar uma política de bônus, a empresa visa criar incentivos para seus executivos tomarem riscos e buscarem a maximização de valor da empresa. Paralelamente, a empresa também busca com isso atrair os maiores talentos do mercado. Portanto, a ganância tão atacada pelos opositores deste sistema remuneratório nada mais é que um fruto dos incentivos criados por essa política. Sem dizer que sem esta ganância, o desenvolvimento do sistema capitalista e os ganhos de produtividade da economia teriam evoluído a passos de tartaruga nos últimos 20 anos.

Ao final de um período de prejuízo, no entanto, as empresas muito agressivas na remuneração variável de seus funcionários se veem em uma encruzilhada. Elas devem definir se cortam os bônus e com isso a confiança e motivação da equipe ou se bancam o bônus (ou parte significante dele), nem que isso aumente o prejuízo, pensando na manutenção dos incentivos e sinalizando, com isso, que a empresa confia e conta com a capacidade da equipe em reverter o cenário negativo.

Obviamente, o desfecho desta decisão passa pela análise dos fatores que levaram a empresa ao prejuízo. Analisa-se se foram situações e mudanças de conjuntura fora do controle dos executivos ou se foram situações diretamente relacionadas às decisões tomadas por estas pessoas ou mesmo um misto de ambos que frustraram os resultados da empresa.

No caso da AIG, sob este aspecto, a distribuição de bônus é justificável. Que os responsáveis pelo definhamento da empresa foram gananciosos e irresponsáveis não pairam dúvidas (e foram incentivados para serem). Que eles são incompetentes, eu já acho que não. Se o fossem já teriam sido demitidos. Portanto, dado que a empresa aparentemente acredita ser a mesma equipe que colocou a AIG nesta situação a mais apta para tirá-la do buraco, nada mais justo que manter os incentivos e a confiança destes profissionais ao honrar o que havia sido pactuado anteriormente. Doutra forma, qual seria a motivação destes funcionários para salvar a empresa?

E o que a empresa sinalizaria caso quebrasse este acordo prévio? Daqui a cinco anos, na hipótese de a seguradora se recuperar e se tornar uma potência no setor, você enviaria seu currículo para uma vaga na AIG que prometesse bônus extraordinários?

Por que Sabesp?

Coluna publicada no jornal A Cidade, em 28 de Março de 2009

O editorial do AC de duas semanas atrás, procurou chamar novamente a atenção para o pendente desfecho da concessão dos serviços de saneamento em nossa cidade. O texto trata de um assunto importante para ser ignorado e o próprio jornal deveria colocar na pauta de suas edições seguintes a opinião dos dirigentes de Pinhal a respeito do assunto. Os editores do AC, porém, passam a impressão de que descartada a opção pela municipalização dos serviços, restaria a renovação do contrato com a Sabesp como única, ou melhor, opção a ser feita.
Em fevereiro do ano passado esta coluna tratava do mesmo assunto. Resgato hoje algumas das opiniões, ainda válidas, que ali foram colocadas.

Primeiramente, se ainda não é, já deveria ser consenso que o município não tem condições técnicas e principalmente financeiras de assumir os serviços de saneamento e os investimentos necessários para tanto.

No entanto, isto não significa que só resta a opção Sabesp para Pinhal. Outras empresas privadas estão cada vez mais dispostas a investir em projetos de água e esgoto e a assumirem concessões municipais de saneamento.

A concessão dos serviços de água e esgoto é um ativo valioso. Quanto vale? Não sei. Só uma avaliação econômico-financeira poderia dizer. Mas isto é algo que se já não foi feito, já deveria ter sido providenciado. No momento, ninguém melhor que a Sabesp tem as informações necessárias e a avaliação de quanto vale esta concessão. Não é a toa que ela se apresenta como a mais interessada na renovação do contrato, inclusive oferecendo planos de investimento e expansão dos serviços. Se a concessão valesse pouco, ela não ofereceria tanto. Mas como extrair a melhor negociação com a estatal? Somente procurando saber quanto vale este contrato.

Em Mogi-Mirim, a solução encontrada pelo município para maximizar os ganhos para a cidade foi fazer uma licitação pela concessão dos serviços de saneamento. Nada mais justo. Não se apronta um escândalo para compras e contratos da prefeitura que são feitos sem licitação? O que dizer então de um contrato de 30 anos para um serviço essencial a população e que envolve milhões de investimento? Por que não uma licitação?

Obviamente para esta opção, deve-se primeiramente fazer uma sondagem para verificar se existiriam empresas interessadas, formatar um edital e minuta contratual blindados para haver transparência e poder atrair o maior número de participantes. Uma sugestão já seria estabelecer investimentos mínimos (iguais ou maiores aos oferecidos atualmente pela Sabesp). O vencedor poderia ser aquele que apresentasse a menor tarifa ou um misto de menor tarifa com maiores investimentos. O que melhor se adequar a necessidade do município.

No caso de Mogi-Mirim, o vencedor da licitação foi um consórcio formado pela própria Sabesp e por outras empresas privadas.

Temos dois exemplos, próximos a Pinhal, de soluções distintas para o problema de renovação de contrato com a Sabesp. Um é o de São João da Boa Vista que optou pela renovação sem licitação e outro o de Mogi-Mirim que optou pela licitação. Antes de qualquer coisa, uma visita a estas cidades para estudar a viabilidade e os pros e contras de cada solução torna-se imperativa para as pessoas de Pinhal a cargo desta negociação que estejam realmente interessadas no que for melhor para a população.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Os verdes em xeque

Coluna publicada na Infomoney.com em 28 de março de 2008

Há algum tempo economistas e pesquisadores de outras áreas tentam precificar as amenidades do meio ambiente. Quanto custa o ar despoluído? Qual o valor de uma mata nativa? Por serem bens que não possuem mercado onde possam ser comercializados, a estimação de seus preços é um desafio. A definição desses valores seria útil na determinação de multas para crimes ambientais e também para uma melhor análise sócio-econômica de projetos (talvez seja justificável fazer um pequeno desmatamento em uma região se o projeto proporcionar retornos sociais extraordinários).

Muitos ambientalistas, porém, são intransigentes e refutam esta abordagem econômica da natureza. Argumentam que o meio ambiente deve ser preservado a qualquer custo. O curioso é que na maioria dos casos, os próprios ambientalistas se recusam a incorrer nos custos de preservação ambiental.

Um exemplo recente está no programa de concessão de uma extensa reserva florestal em Camarões. O ministro do meio ambiente daquele país diz que poderia conceder a área para a exploração econômica a ser feita por uma empresa madeireira, mas prefere concedê-la a um grupo ambientalista qualquer a fim de preservar a floresta tropical da região. A concessão, no entanto, tem um preço: 1,6 milhões de dólares por ano (US$ 2 por hectare). Até agora, nenhuma ONG de preservação ambiental se propôs a pagar para preservar a vasta área no sul do país africano.

A idéia de conceder florestas para a preservação é uma idéia recente e que já possui casos de sucesso. A organização ambiental WWF já preserva áreas concedidas em países como Peru e Guiana, mas a um preço muito menor que o pedido pelo governo camaronês. Esta foi a justificativa deles ao refutarem o projeto de Camarões. Mas o meio ambiente não deveria ser preservado a qualquer custo? E o avanço das pastagens, plantações e extrativismo, que tornam as matas nativas cada vez menores não teria justamente o efeito de torná-las cada vez mais caras (por estarem mais escassas e ameaçadas)?

Esta atitude contraditória dos ambientalistas põe em xeque suas reais intenções e benefícios que proporcionam ao meio ambiente. Tem-se a sensação que os recursos arrecadados por estes grupos são destinados mais para fazerem barulho e mídia do que para projetos que de fato conservam o meio ambiente.

As ONGs ambientais são altamente dependentes de doações e convênios com entidades públicas. Da mesma forma que se costuma dizer que no Brasil existe a indústria da seca, pode-se argumentar que os ambientalistas fomentam a indústria do "próximo cataclismo ambiental". Na mídia, há sempre um desastre ambiental em vias de acontecer cuja fonte da notícia, invariavelmente, é um grupo ambientalista. A iminência de uma catástrofe é necessária para a manutenção do fluxo de recursos destinados à ONG. Se a expectativa é que nada sendo feito tudo permaneça inalterado pelos próximos 50 anos, ninguém vai querer doar dinheiro aos ambientalistas.

Este método de atuação das ONGs ficou evidenciado 7 anos atrás quando o estatístico dinamarquês Bjorn Lomborg lançou um livro chamado O Ambientalista Cético. Nele, Lomborg conseguiu provar usando dados estatísticos oficiais que o meio ambiente não se encontrava em um estado tão catastrófico quanto o alarmado a época pelos ambientalistas.

O livro caiu feito uma bomba entre os verdes. Mas a reação predominante foi rechaçar os argumentos do dinamarquês atacando sua reputação e não seus métodos. Como aparentemente os donativos às ONGs não cessaram em função da publicação do livro, não houve necessidade de fazerem uma revisão em seus estilos de atuação. Ficamos, portanto, no aguardo da próxima era do gelo.