Coluna da Infomoney publicada em 12 de Setembro de 2008
Quando o mercado acionário não pára de cair, a pergunta que todos fazem é: qual é o fundo do poço? Aqueles investidores de maior sangue-frio que começam a coçar as mãos para investir na bolsa devem ter algum critério ou gatilho para entrarem no mercado. Recentemente, a revista The Economist publicou alguns indicadores que subsidiam os agentes de mercado nestas situações.
O primeiro indicador a ser observado é a volatilidade. A regra é entrar no mercado logo após picos nos indicadores de volatilidade do mercado. A lógica por trás deste raciocínio é a de que os mercados tornam-se bem mais voláteis em períodos de queda do que em períodos de boom. Isto porque não existem situações em um boom em que os agentes se tornam forçados a comprar papéis.
Por outro lado, em um período de baixa, haverá situações nas quais existirão vendedores forçados a se desfazer de suas posições para se capitalizarem ou por terem que responder a uma chamada de margem. O fato de existir uma situação que force parcela dos agentes a venderem adiciona volatilidade ao mercado.
Nos EUA, o indicador de volatilidade é o chamado VIX, que historicamente apresentou picos em 2002 e em 1998 na época do resgate da quebra do fundo LTCM. Ambos os momentos provaram ser rentáveis para quem entrou no mercado. Nestas ocasiões, o índice de volatilidade americano chegou a superar os 40 pontos. Hoje, ele se encontra no patamar dos 30 pontos.
Outro indicador para a decisão de entrar ou não no mercado seria o dividend yield do mercado. Quando o retorno dos dividendos superar o retorno de títulos públicos, na prática paga-se mais para segurar ações do que para se posicionar em títulos de baixo risco. No entanto, o ideal seria que este dividend yield fosse calculado de forma prospectiva, ou seja, levando-se em conta a estimativa de distribuição de dividendos por ação e não os registros passados. Afinal, se estamos falando de situações em que o mercado está em baixa é de se esperar que os dividendos futuros sejam menores que os do período anterior à crise.
No Brasil, mesmo com o aumento das taxas de juros, a recente baixa do mercado acionário tem feito alguns papéis apresentarem dividend yields maiores que a taxa Selic. Portanto, uma análise fria dos fundamentos já seria motivo para os investidores voltarem a comprar. No entanto, vale lembrar que da mesma forma que em uma euforia os preços sobem para patamares exuberantes, no pânico eles caem para níveis sem fundamentos. Há ainda muita incerteza no mercado.
Não está claro se os movimentos recentes dos bancos centrais levarão a uma política monetária muito restritiva ou muito frouxa. O mercado brasileiro continua a sabor dos preços das commodities que seguem sem uma tendência definida. E todos continuam a espera de um evento que possa assentar a poeira que turva as projeções de médio prazo. Alguns acreditam que este evento poderá ser o desfecho das eleições norte-americanas. Vamos aguardar.