O blog

Este blog foi criado em 2008 para a postagem das minhas colunas que eram publicadas no Infomoney e no extinto A Cidade.
Atualmente publico no jornal O Pinhalense e no site O Financista.
Aproveitem!


quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O Poder dos Incentivos

Coluna A Cidade de 26 de Janeiro de 2008

Boa parte da teoria econômica passa pelo estudo dos incentivos. A economia trata das escolhas dos indivíduos e estes respondem invariavelmente as condições do ambiente em que estão inseridos incluindo aí os incentivos que lhe são oferecidos.

O proprietário de um terreno vazio possui diversas opções do que fazer com sua propriedade. Porém, se o banco local cria uma linha de crédito vantajosa para se plantar abobrinha, cria-se um incentivo para o sujeito plantar abobrinha. Desta forma, os incentivos vão moldando a tomada de decisões dos agentes e, de um modo geral, a economia como um todo.

No entanto, muitas leis e decisões que determinam nosso ambiente geram incentivos distorcidos e que usualmente acabam criando efeitos contrários daqueles inicialmente planejados. Qual seria, por exemplo, o incentivo torto escondido por trás de uma lei que nos obriga a usar o cinto de segurança? Como o próprio nome já diz, o cinto nos traz segurança. Pois bem, se eu dirijo com maior segurança, eu tenho o incentivo de chegar mais rápido aos lugares. Aumento, então, a velocidade com que dirijo, pois estou mais seguro do que antes. Como todos estão sujeitos ao mesmo incentivo, todos passarão a correr mais. O resultado disso só pode ser o aumento do número de acidentes nas estradas.

A obrigatoriedade do cinto, de fato, diminui o número de mortes por acidente, mas ao mesmo tempo faz aumentar o número total de acidentes. O número absoluto de mortes, no final, acaba sendo igual, ou até maior, do que o de antes da obrigatoriedade do cinto.

Casos como este existem aos montes em nosso dia a dia. A descoberta de um método contraceptivo mais eficiente que os atuais diminuiria os casos de gravidez indesejada? É duvidoso. Com o sentimento de estarem mais seguros contra uma gravidez indesejada, os casais teriam o incentivo de transarem mais vezes (ou um maior número de casais passaria a sentir seguro o suficiente para começar a transar). O novo método contraceptivo diminui as chances de gravidez por relação sexual, mas ao mesmo tempo a freqüência destas relações aumenta. O resultado é, no mínimo, o número de casos de gravidez indesejada continuar os mesmos de anteriormente.

Este problema está relacionado ao que os economistas chamam de risco moral (“moral hazard”). O risco moral existe porque as pessoas reagem de forma diferente do normalmente esperado quando elas se deparam com situações e incentivos diferentes. É isto que explica, por exemplo, o fato das seguradoras estabelecerem franquias e bônus nos seguros de automóvel. A franquia funciona como um incentivo para os motoristas não descuidarem de seus veículos que já estão assegurados contra danos.

O VPL nosso de cada dia

Coluna Infomoney 07 de Dezembro de 2007
VPL: valor presente líquido. Trata-se do critério de decisão de investimento mais utilizado pelas empresas para a seleção de projetos. O motivo de sua popularidade é simples, ele é o melhor critério que existe.

O VPL desbanca outros critérios tradicionais como TIR, payback e custo/benefício, pois com ele tem-se a garantia de que, se o projeto for aceito, ele agregará valor à empresa. Vejamos como isso é sempre verdade.

Para se chegar ao VPL de um projeto basta descontar seu fluxo de caixa por uma taxa de desconto equivalente ao custo de capital da empresa e subtrair o aporte inicial de recursos necessário para o início do projeto.

Portanto, se houver sobra de caixa, o valor da empresa será o valor de todo seu capital mais o caixa ou a soma do capital com o valor presente do projeto no qual aquele caixa será investido.

Se esse valor presente for superior ao montante do caixa, o projeto agregará valor à empresa. Então, a regra de decisão do VPL é simples: aprovar todo projeto que possuir VPL>0.

Este é o problema com que uma típica empresa se defronta quando há sobra de caixa. Investir em novos projetos usando este critério de decisão ou distribuir esse dinheiro aos acionistas para eles por si só decidirem onde investir?

E como seria a aplicação do VPL em nosso dia-a-dia? Fora do ambiente corporativo, a utilização deste critério de decisão nos leva a conclusões interessantes. Sem considerar as aplicações ao extremo - o premio Nobel Gary Becker, num exemplo clássico dos entusiastas do VPL, diz que um suicida nada mais é que um sujeito cujo valor presente líquido de sua utilidade futura é negativo! - o VPL pode ser útil nas finanças pessoais, levando-nos a ver nossas decisões de investimento pessoal de uma maneira alternativa. Vejamos:

Uma das variáveis-chave da fórmula acima é a taxa de desconto (custo de oportunidade do capital). No caso do investidor pessoa física, esse custo de oportunidade é o custo de se carregar dinheiro, ou seja, a taxa livre de risco da economia.
No Brasil, seria a taxa do CDI. Suponhamos que esse investidor decida aplicar todos os seus recursos, por 6 meses, em um fundo que busque a rentabilidade do CDI ou em títulos públicos remunerados por essa mesma taxa.

O VPL seria zero e o investidor não estaria agregando valor a seu estoque de riqueza frente a possíveis outras oportunidades disponíveis no mercado. De certa forma, sob essa ótica, aplicar em fundos cujo retorno esperado equivale ao próprio custo de oportunidade seria a forma elegante (ou menos burra) de se guardar dinheiro debaixo do colchão.

Ou seja, quem aplica no CDI, hoje, no Brasil está perdendo oportunidades de agregar valor a seu portfólio. A taxa do CDI não acompanha eventuais ganhos de produtividade da economia.

A saída, portanto, seria buscar aplicações que captem esses ganhos do crescimento econômico. À disposição hoje, para citar dois exemplos desse tipo de aplicação, estão as ações e a abertura de um negócio próprio.