O blog

Este blog foi criado em 2008 para a postagem das minhas colunas que eram publicadas no Infomoney e no extinto A Cidade.
Atualmente publico no jornal O Pinhalense e no site O Financista.
Aproveitem!


segunda-feira, 7 de março de 2011

Rap do Desenvolvimento

Coluna publica no A Cidade, em 15 de janeiro de 2011

Um rapper americano canta pra ficar famoso, encher o pescoço de correntes de ouro, comprar um Porsche, sair do gueto, mudar-se para uma mansão e, por fim, para mostrar a todo mundo, por meio de sua música, que ele se deu bem: ficou rico.

O rapper brasileiro canta pra ficar famoso,de preferência com patrocínio público, “tunar” seu Monza, colar um adesivo “100% Periferia” no vidro traseiro e faz poesia romantizando a pobreza e a vida sofrida.

Tanto lá como aqui, o rap é o mesmo estilo musical. Só mudam as letras e as histórias contadas. E isso faz uma enorme diferença, pois embora musicalmente muito parecidos, os raps de cada país refletem culturas totalmente distintas.

Nas letras e atitudes destes artistas estão expostas as aspirações e anseios de parcela da população que, por isso, identifica-se com a música, criando uma empatia e a compra do CD.

Não é de se estranhar que os EUA é um dos países mais desenvolvidos do mundo enquanto o Brasil patina para se desenvolver. Falta ambição. Eles querem ficar ricos e mostrar a todos que conseguiram. E isso faz com que todos também tentem ser bem sucedidos. Aqui, nós queremos ficar ricos e dizer a todos o quão orgulhosos somos de morar numa favela. O importante não é tentar se dar bem e ser bem sucedido. O importante é aceitar a condição de favelado e se orgulhar disso. Afinal, tem até artista que faz musica pra gente dizendo o quanto isso é legal.

Por outro lado, esta característica cultural também explica as estatísticas que mostram o Brasil entre os países mais felizes do globo, enquanto os mais frustrados e infelizes são sempre países mais desenvolvidos, apesar de todo aparato de bem estar social acessível a toda população que existe na maioria destes países. Sem ambição não existe frustração. Estas pesquisas, na verdade, mostram que tem gente (eles) que é feliz e não sabe e tem gente (nós) que não sabe o que é ser feliz.


Tragédia no RJ

Se o clima tem alguma responsabilidade na tragédia, foi a de evidenciar a falta de planejamento em todos os níveis e esferas de governo além da falta de responsabilidade de parcela da população que se instala em áreas de risco. No âmbito do clima, nada que ocorreu era imprevisto ou inesperado para esta época do ano.

Bomba Russa

Coluna publicada no A Cidade, em 29 de janeiro de 2011

O atentado terrorista no aeroporto de Moscou, que ocorreu esta semana, foi o primeiro na Rússia almejado diretamente a civis estrangeiros. Embora o terror causado seja o mesmo caso os alvos sejam civis domésticos ou estrangeiros, atacar os últimos é um claro sinal de tentar mostrar fragilidades no sistema de segurança russo e amedrontar a população global no início de uma década na qual se espera um grande fluxo de turistas para o país. Em 2014, a Rússia sediará as Olimpíadas de Inverno e, em 2018, a Copa do Mundo de futebol.

Além disso, atacar estrangeiros busca também chamar a atenção do globo para o regime autoritário que se instalou no país desde o fim da União Soviética. Yeltsin, Putin e Medvedev – todos os presidentes desde então – foram patrocinadores da criação de uma oligarquia capitalista que tomou de assalto a economia do país e também são coniventes com um sistema mafioso que administra atividades ilegais no país, como contrabando, tráfico de drogas e mulheres e, mais recentemente, “serviços de proteção” ao patrimônio de empresas estrangeiras.

Tudo isso teve início na década de 90. Logo após o desmantelamento da União Soviética, as únicas atividades econômicas minimamente competitivas deixadas de herança por décadas de um regime socialista eram a fabricação de armas e a exploração de recursos naturais: gás e petróleo, principalmente.

Para desenvolver o país e se financiar, o governo russo abriu seus mercados de bens e capital para o fluxo de capitais estrangeiros e paralelamente iniciou um processo de privatização, que era necessário, já que literalmente toda economia estava sob controle estatal. Mas este processo de privatização foi desastroso, pois configurou-se, na prática, por uma transferência de ativos das mãos do Estado para as mãos de grupos familiares que eram próximos ao governo.

Enquanto isso, o país surfou na onda de liquidez internacional de capital que ocorria em meados da década de noventa que serviu para injetar um grande volume de recursos nestas novas empresas privatizadas. Estas, porém, eram pouco interessadas em se desenvolverem o que não impediu os poucos grupos que passaram a comandar a economia ganharem musculatura financeira. E junto com a riqueza veio a vontade de consumir bens de luxo. Afinal os novos czares da economia não se satisfaziam com carros Lada e demandavam BMWs.

Como eles próprios não produziam BMWs, a solução foi importar. E houve uma enxurrada de bens importados na economia russa provocada não só pela demanda interna de bens de consumo dos mais variados, mas também pela valorização do câmbio que sucedeu àquele grande fluxo financeiro para a Rússia.

Neste processo de perder o controle da exploração de seus recursos naturais e possuir uma economia doméstica fragilizada e altamente dependente de importação, o governo russo ficou refém do endividamento externo para se financiar. Uma configuração insustentável ao menor suspiro dos fluxos internacionais de recursos. E foi o que ocorreu em 1998. Aos primeiros sinais de desconfiança dos investidores estrangeiros, que começaram a perceber que seus recursos estavam sendo usados para consumir BMWs e não produzi-las, o fluxo de investimentos foi recuando até o governo russo declarar moratória de sua dívida e o fluxo cessar completamente.

Até na declaração de moratória o ranço autoritário do governo russo se transpareceu, pois o governo declarou moratória não só da dívida em dólares, mas também da dívida em moeda local. Acontece que nenhum país declara moratória em dívida local, pois basta imprimir moeda para pagá-la...

Desde então, o colapso da economia russa apenas fortaleceu a simbiose entre máfia, oligarquias capitalistas e o grupo de poder, pois para manterem o status quo sem os recursos externos, estes grupos tiveram que se sustentar com apoio mútuo. Desequilíbrios neste jogo de poder tendem a gerar estragos maiores que o ocorrido no aeroporto de Moscou.

Temas Recorrentes

Coluna publicada no A Cidade, em 26 de fevereiro de 2011

A última edição do jornal A Cidade trouxe várias matérias sobre temas e assuntos recorrentes da coluna “É a economia!”.

A começar por duas notícias sobre doações de terras para empresas. O colunista é contumaz crítico desse procedimento por parte da prefeitura. Em novembro último escrevi a coluna “Pior lugar para se investir” que tratava do assunto. Hoje, se já não foi votada, está para ser votada a doação de um terreno para o Instituto Banco Ambiental. A proposta do Executivo já possui evoluções, como o estabelecimento de prazos para implantação e cláusula de reversão do terreno e benfeitorias caso estes prazos não sejam cumpridos. Porém, a reportagem deu a entender que a etapa do projeto do Instituto que mais interessa ao município, que é dar um destino ao lixo da cidade, fica no campo da possibilidade sem haver garantias para tanto.

Mas o curioso é a inconsistência da Prefeitura. Uma administração que mostra tanto apreço pela aquisição de bens imóveis cede propriedades do município sem qualquer ônus para as empresas beneficiadas. Obviamente vender o terreno não é um atrativo para empresas, mas concessões onerosas podem ser facilmente absorvidas nas estruturas de custo de qualquer empresa.
Virando a página do jornal, encontramos uma matéria sobre as justificativas da Sabesp a respeito das recorrentes falhas no fornecimento de seus serviços para Pinhal. Lembro de já ter escrito em pelo menos três ocasiões sobre a Sabesp em minhas colunas. Uma das últimas colunas tinha o sugestivo título “Por que Sabesp?”, em março de 2009. Nunca concordei com a forma que se deu a renovação do contrato com a empresa. Para casos semelhantes em concessões públicas, as prefeituras podem requerer o chamado reequilíbrio econômico-financeiro do contrato. Ou seja, exigir compensações da concessionária pelo serviço não fornecido. Ooops, mas me esqueci que em Pinhal o serviço de água não é uma concessão pública. Se o fosse, teria que ser precedida de uma licitação, segundo a Lei das Concessões, o que nunca ocorreu. Tanto que o contrato com Sabesp não é chamado contrato de concessão.

Se for, ele é ilegal.

Não foi por acaso que os técnicos da estatal de saneamento ficaram sem respostas quando questionados pelo vereador Viola a respeito das multas cabíveis nestes casos de falhas da empresa. O mesmo vereador chamou a atenção na Câmara para um outro tema, dessa vez abordado na coluna “Vergonha de trabalhar”, de outubro de 2010. Ao mencionar o alto índice de faltas da unidade da Delphi de Pinhal em relação ao de outras cidades, o vereador mostrou ser evidente a dificuldade que o município enfrenta com a falta de disposição de sua força de trabalho.

E no final tem o carnaval. Nunca escrevi sobre ele, mas as notícias e editorial da última semana sobre o tratamento que a festa vem recebendo da prefeitura e seus desdobramentos no relacionamento com a Camara e a população já é um bom tema para uma próxima coluna.