O blog

Este blog foi criado em 2008 para a postagem das minhas colunas que eram publicadas no Infomoney e no extinto A Cidade.
Atualmente publico no jornal O Pinhalense e no site O Financista.
Aproveitem!


segunda-feira, 22 de março de 2010

Risco-retorno do mercado de trabalho

Coluna publicada no jornal A Cidade de 20 de março de 2010

Nos investimentos financeiros vale a correlação positiva entre o risco e o retorno. Ou seja, quanto maior o risco do investimento, maior é o retorno esperado e vice-versa. Ações são investimentos mais arriscados e por isso tendem a ter maior retorno esperado, já a poupança é quase livre de risco e por isso rende relativamente menos. A lógica é simples: se algo tem um retorno financeiro muito incerto -maior risco- eu, como investidor, vou exigir e esperar receber um prêmio pelo risco de aplicar minhas economias neste ativo.

O que poucos sabem é que este conceito pode ser aplicado para muitas outras situações em nosso cotidiano, muito embora muitos já o apliquem mesmo que de forma inconsciente. Um exemplo mais típico é o caso do mercado de trabalho. Ao escolhermos onde mandar currículos ou ao escolher entre duas oportunidades que aparecem ou termos que decidir sobre mudar de emprego ou não, a análise de risco-retorno sempre pode ser aplicada.

Quando a dúvida é abrir uma empresa pequena ou trabalhar em uma empresa grande, pode-se ponderar: na empresa grande é mais garantido eu manter minha empregabilidade, mas posso levar mais tempo para evoluir na carreira e terei mais concorrentes para isso, logo é um emprego mais estável. Porém, possui retorno menor em relação ao de uma empresa pequena onde coloco minha carreira em risco por conta dos riscos inerentes à operação de um negócio pequeno, mas, por outro lado, se a companhia obtiver sucesso no mercado, ela crescerá de forma rápida assim como minha carreira - e carteira.

Outros casos são os dos empregos oferecidos no exterior, em países subdesenvolvidos ou em regiões menos desenvolvidas do Brasil. Não é à toa que as vagas que surgem para estes lugares sempre pagam mais que uma equivalente nos grandes centros. Para uma pessoa sair do conforto do grande centro, onde existem outras oportunidades, e viajar para um lugar desconhecido, com risco não só de natureza profissional, mas também riscos sociais como a violência e presença de doenças endêmicas, esta pessoa certamente exigirá um salário mais alto.

Para os que prestam concursos públicos, isto também é verdade. Investir em concurso público é investir na poupança do mercado de trabalho. O sujeito que quer virar funcionário público não possui muita ambição profissional, pois os cargos públicos, ao contrário dos privados, possuem um teto salarial. Ou seja, tem-se a garantia de estabilidade no emprego - menos risco-, porém com um limite de retorno. No mercado profissional das empresas privadas, este teto salarial não existe, tampouco a estabilidade de emprego existe.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Ações de longo prazo ou apostas

Coluna publicada no jornal A Cidade de 6 de março de 2010

Na coluna desta semana volto a falar do mercado de ações. Já é amplamente divulgado que investimentos em ações são recomendados para aqueles que vislumbram retornos de longo prazo. No entanto, por mais óbvio que pareça, os investidores devem atentar para o momento do ciclo em que eles entram no mercado acionário. Ou seja, de nada adianta comprar ações em níveis de preços historicamente altos, se eles podem cair e nunca mais recuperar tais patamares. Nem mesmo o mais longevo investidor recupera seu investimento neste caso. Na história das bolsas de valores mais antigas do mundo, a de Nova Iorque e a de Londres, os picos de preços das ações tiveram intervalos de cerca de 30 anos entre um e outro -o último pico registrado foi em 1999 em ambas as bolsas. Uma explicação para ciclos tão longos pode ser o desânimo generalizado e persistente que toma conta dos investidores após uma derrocada dos preços acionários. Um estudo recente relacionou estes ciclos com a demografia. Os períodos nos quais a faixa etária dos 30 a 50 anos é mais populosa caracterizam-se por mercados em alta, pois esta é a faixa etária na qual as pessoas estão mais propensas a poupar. Quando esta geração começa a se aposentar, ela resgata suas economias -vende suas ações- e pressiona o mercado para o campo negativo.

É interessante também notar que, mesmo sendo um investimento de longo prazo, são poucos os dias que fazem a diferença na rentabilidade das aplicações em ações. Conforme notou um professor meu de mestrado, se retirarmos os cinco dias de maiores altas da bolsa de São Paulo e compararmos uma aplicação na bolsa com uma em um fundo que rende CDI, durante o período de 1999 e 2007, o investimento do CDI rende mais. Ou seja, a bolsa só "bate" o CDI neste período em virtude destes cinco dias!

Esta é uma evidência adicional de que também não vale a pena buscar ganhos de curto prazo na bolsa, tentando comprar na baixa e vender na alta nos pequenos ciclos que ocorrem. Isto é válido somente se houver tempo para uma dedicação integral no acompanhamento dos movimentos das ações. Sem esta dedicação, os investimentos de curto prazo viram loteria. E, se for para ser desta maneira, é preferível buscar rentabilidade em coisas mais lúdicas e divertidas, como as apostas esportivas. Esta semana, um colega meu conseguiu um retorno de 300%, durante o jogo do Brasil, ao apostar em eventos tão triviais como afirmar que o primeiro lance de bola parada no segundo tempo do jogo seria um lateral.