O blog

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segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O que querem as manifestações

Coluna de O Pinhalense, 22 de agosto de 2015

É curioso ouvir os arautos da ética criticarem as manifestações do último domingo por estas terem supostamente se esquecido de manifestarem contra a violência policial, a chacina da semana anterior ou tão pouco terem gritado palavras de ordem contra a pobreza e em favor da paz mundial.
Para quem não percebeu, as manifestações tinham foco. Algo que estava difuso e não tão claro nas manifestações anteriores, mas no último dia 16 se manifestou mais evidente. Quem foi às ruas pedia o fim do mandato de Dilma e o fim da era petista no Planalto e até na política brasileira, esta simbolizada pelo Lula inflável gigante com um uniforme de presidiário.
Assim como a Marcha das Margaridas saudada pela presidente na semana anterior parecia não se preocuparcom a violência contra homossexuais ou quem foi abraçar o Instituto Lula não se lembrou da violência na periferia, a manifestação do dia 16 não precisava colocar na pauta a salvação do planeta para se legitimar.
Quem acha o contrário, ou não aceita a realidade e gosta de se auto-enganar, por orgulho ou ingenuidade, ou simplesmente não lhe resta argumentos para desqualificar o mérito da manifestação e fica no mimimiDizer que as manifestações esqueceram de protestar contra isso ou aquilo é o mesmo de querer vencer um debate acadêmico contra Einstein o insultando de feio.
Cuidado com o que se deseja
Neste último ano, os petistas têm mostrado com maestria que faz total sentido a expressão “cuidado com o que se deseja”. A começar pelas próprias eleições de 2014, cuja vitória foi tão desejada que se fez o diabo para vencerem e cuja conta está aí e o diabo parece não parar de cobrar.
Nesta última semana foi feita a denúncia contra Eduardo Cunha pelo Ministério Público Federal no processo da Operação Lava-Jato. Fico a imaginar quantas velas os petistas queimaram desejando que este dia finalmente chegasse.
Ocorre agora que eles estão em uma encruzilhada. Não sabem se desejam o afastamento de Cunha da presidência da Câmara ou se preferem sua manutenção no cargo ao qual foi legitimamente eleito para usar justamente a expressão usada pelo governo para se defender.
Pois bem, se Cunha permanecer no cargo ele pode dar celeridade e terá mais poder de barganha para articular um processo de impeachment contra a presidente, porém o Planalto calcula que ele estará enfraquecido moralmente e talvez valha a pena correr o risco de deixa-lo sangrando, com suas atenções divididas, até porque na hipótese de cassação de mandato pelo TSE, o vice Temer também seria alijado do Planalto e Cunha assumiria a presidência do país interinamente até as novas eleições. E quem desejaria e apoiaria uma coisa dessas?
Por outro lado, se Cunha for afastado da presidência da Câmara, não há certeza sobre o grau de independência que o próximo presidente irá assumir. Sabe-se que a base governista está no momento enfraquecida e não tem condições de cooptar o próximo presidente. Ao mesmo tempo que um afastamento de Cunha alimentará a sua versão da teoria da conspiração que o Planalto estaria lhe perseguindo e pode servir de combustível para inflamar os ânimos dos que ficarem na Mesa Diretora da Câmara. O ponto positivo para o Planalto no afastamento de Cunha seria o distanciamento no curto prazo de um risco conhecido de se ter um opositor declarado na presidência da Casa em tempos que a popularidade e governabilidade do Planalto estão minguando.
Na história do dilema dos prisioneiros da Teoria do Jogos, cujo enredo é cada vez menos metafórico neste caso, ambos os bandidos presos acabam entregando um ao outrocom a esperança de se safarem ou pegarem uma pena mais branda. É a escolha racional de cada um, mesmo que ambos poderiam ter melhor resultado caso cooperassem um com outro. Ou seja, o resultado esperado do dilema dos prisioneiros deveria ser o maior receio do Planalto ao desejar fritar Eduardo Cunha.

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